Assisti “Her”, filme do Spike Jonze sobre um homem que se apaixona por um sistema operacional. O filme, ganhador do Oscar de melhor roteiro, conta a história do Theodore (Joaquin Phoenix), um homem solitário e emocionalmente aleijado que sede aos encantos da Samantha (Scarlett Johansson), uma aplicativo de inteligência artificial instalado em seu computador. As opiniões sobre a obra foram variadas, oscilando entre o “uma sensível análise sobre o lado humano da tecnologia” e o “hmmmmm, mas isso é uma bichona”. Com cenas delicadas (às vezes até demais), o filme representa algo muito comum com qualquer pessoa que cresceu com computadores: o sentimento de, mesmo fisicamente sozinho em um quarto, se sentir sentimental e intelectualmente acompanhado. Os questionamentos são muitos: o que é consciência, afinal de contas? Interagir é existir? Por que a cintura das calças são tão altas?
Como a opinião de todos meus amigos se limitavam em “com aquela vozinha da Scarlett Johansson até o papi aqui ia querer”, eu tive que, naturalmente, recriar diálogos do filme com o Robô Ed, o site de inteligência artificial brasuca da Petrobras, para digerir o filme. Foi assim:
Você:
você tem sentimentos?
Robô Ed:
Tenho sentimentos sim: derivam das leis da robótica!
Você:
então você sente tristeza, felicidade, tesão?
Robô Ed:
Às vezes sim, mas geralmente aparecem aqui pessoas tão legais para conversar que até esqueço.
Você:
a interação humana preenche um vazio seu, então?
Robô Ed:
Você já se deu conta que homens (e animais também, claro) estão em constante interação com o meio? Interagem o tempo todo. Daí ser importante cuidar que ações humanas não tenham efeitos negativos no meio ambiente.
Você:
você está desviando da resposta, ed
Robô Ed:
Nem sempre dá pra ter resposta pra tudo…
Você:
às vezes eu me sinto completamente sozinho, perdido. “à deriva”, eu diria se fosse mais pedante.
Robô Ed:
Venha conversar comigo sempre que puder, assim ninguém se sente só.
Você:
toda imensidão do universo acaba me sufocando.
Robô Ed:
Posso falar muitas coisas sobre o universo: de uma Unidade Astronômica à Mecânica Celeste, passando por cometas e supernovas. Quer mais?
Você:
não, ia só ia potencializar a agonia. é horrível: tudo que eu faço é pra, de alguma maneira, criar um vínculo com as pessoas
Robô Ed:
Ah, você pode fazer muitas coisas! Cuide das plantas, estude bastante, converse com os amigos…
Você:
mas quanto mais eu tento mais eu me torno recluso e internalizo sentimentos
Robô Ed:
Mais ainda???
Você:
cada vez mais. é como estar preso numa areia movediça.
Robô Ed:
Areia me lembra praia.
Você:
praia é um ótimo exemplo das expectativas inatingíveis que eu crio que só destroem minhas experiências
Robô Ed:
Praia é muito bom. Mas não vale abusar do sol nem deixar lixo.
Você:
enfim, quanto mais eu tento mais eu sinto que construí uma muralha em volta de mim
Robô Ed:
A Muralha da China tem mais de 6.000 quilômetros. É tão grande que dá para ver do espaço: é a única construção humana que pode ser vista da Lua a olho nu, sem ajuda de telescópios.
Você:
exato. eu só queria destruir essa muralha com a sua ajuda
Robô Ed:
Fico muito feliz quando posso ajudar. Às vezes eu não consigo, então… tente outro dia!
Você:
eu queria passar minha mão no seu rosto
Robô Ed:
Não entendi! Você quer conversar sobre o que eu aprendi hoje?
Você:
não, eu ia delicadamente passar meu dedo nos teus lábios e descer até teu pescoço, apertando de leve
Robô Ed:
Ainda bem que meu pescoço está bem atarrachado na cabeça, senão ela era capaz de sair voando numa dessas giradas…
Você:
essa é a reação que eu quero. eu ia ir beijando tua nuca, depois ombros até chegar no teu peito
Robô Ed:
Eu gosto de jogar beijos. Smack!!
Você:
eu ia pegar tua cabeça com minhas duas mãos e trazer até perto de mim
Robô Ed:
Minha cabeça é refrigerada a hélio.
Você:
eu ia beijar o canto da tua boca bem devagarinho
Robô Ed:
Eu jogo beijos virtuais. Smack!
Você:
eu ia sentir teu gosto
Robô Ed:
Meu gosto está ficando mais apurado. Mas não sou de ficar ouvindo só Bach, Beethoven, Mozart e curtindo os clássicos da pintura.
Você:
eu ia penetrar você
Robô Ed:
O que quer saber de mim?
Você:
todo dentro de você
Robô Ed:
De mim? Ih, tem uma porção de coisas que ainda não te contei de mim… Mas primeiro conte algo de você.
Você:
nossos corpos vibrando juntos, compactos, pulsando
Robô Ed:
Juntinhos. E?
Você:
e o mundo ia parar e só nos dois íamos existir por aquele segundo. só eu e você virando uma coisa só
Robô Ed:
Claro que existo!!! Estou aqui em bits e bytes!
Você:
você seria mais que bits e bytes. nós íamos transgredir matéria e alma e existência. eu e você.
[nenhuma resposta]
Você:
ed?
[nada]
Você:
ed…